Prólogo

É aquela velha história…
Vampiros fingindo ser humanos fingindo ser vampiros…

Mas a maioria dos missivistas estão mortos…
O Theatre des Vampires há muito desfeito… — Nada poderia ter sido tão maravilhoso como Arte e repugnante como Conceito Ideológico…
Os Antigos dormem, ou apenas perderam o interesse pelo que tem Substância Material… — Recuso-me a falar dos que enlouqueceram…
Os que se fizeram de Heróis, um dia, foram tragados por uma Escuridão de Dúvidas e abarcados pelo que se revela sem abandonar o seu Mistério… — O Desespero Silencioso é um dos acometimentos mais terríveis sobre qualquer tipo de existência.




Então eu não estou aqui para ser herói, ou qualquer coisa assim… Eu sou um Pretexto para a Poesia… foi assim que fui concebido… foi assim que consegui manter alguma Sanidade…
Não que eu seja imune aos Lépidos Desesperos Devoradores de Alma… mas eu sempre fiz de tudo para me manter em movimento, no fluxo das coisas, desde antes de ser entregue ao Irremediável Poder das Trevas… — um dia eu conto essa história…
É por isso que eu continuo… e vou continuar até que o Sol devore este nosso Planetinha, vocês vão ver. E se quiserem ver mesmo… bom… vão ter de implorar por uma mordida…

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte VIII) — O Despertar do Gigante…

…mas mesmo alguém como eu, com a eternidade como consorte, não tem tempo a perder com desmaios…

Uma pequena batida no solo com a palma da mão foi suficiente para me jogar para cima novamente em pé, estralando os ossos do pescoço totalmente enfurecido; eu sabia…

— Devo parabenizá-lo por me acertar, poucos conseguiram. Mas um ataque pelas costas te rouba um pouco do mérito… só um pouquinho. — Mostrei o meu sorriso que mais parecia uma mordida e um rosnar, ao falar com o Dom da Mente.

…eu sabia que algo havia se aproximado por trás de mim. Eu só não quis acreditar. Eu havia transformado a Lua em um Santuário, em uma Fortaleza sem muros, mas impenetrável; um grande erro. Então eu estava frente a um abençoado com a terrível maldição do Dom das Trevas: um vampiro com quase dois metros e meio de altura coberto com a pele de um leão como se fosse um manto. A juba vasta e dourada adornava seus ombros largos demais, e como se a fera o tivesse abocanhado a cabeça, o semblante da ira leonina o protegia como um elmo. Na cintura, sobre o saiote de tiras de couro, pendia uma espada curta, e as botas de couro macio forradas de pele iam até quase os joelhos. De longe ele me encarava fixamente e eu quase não acreditava em suas proporções.

Ele começou a olhar as próprias mãos e os braços, procurando algo que não estava mais lá, como se a tecedura da realidade tivesse de ser vertida antes de assimilada. Disse em minha mente voltando a olhar para mim:

— Pensas alto demais homenzinho, és sempre tão descuidado assim? — ele riu dentro da minha cabeça. — Deste-me sonhos antes do meu despertar. Vens de um mundo completamente diferente do meu e ainda assim conheces Akasha?! Asclepius te mandou aqui?

— A recepção não é uma de tuas virtudes, certo? Primeiro me atacas pelas costas, depois começa uma conversa e nem ao menos te apresentas?!

Órion é meu nome. — Mas ele projetou o nome em minha mente no alfabeto derivado das antigas línguas indo-européias, o qual existe há mais de 3.000 anos: Ωρίων. — Asclepius… foi ele mesmo?

Eu fiquei calculando a idade dele… pelo que havia dito até então, pela sua força física e estranhas vestimentas. Órion… não havia como não fazer as várias associações com a mitologia. Havia ele se revestido do mito? …ou de alguma forma teria inspirado poetas e mitógrafos pelo mundo? Minha única conclusão sábia fora a que eu deveria evitar um confronto direto com ele. Eu me encontrava em tremenda desvantagem. Eu não sabia o que era pior: ele ser tão antigo quanto Akasha, ou ter sido alimentado com o poder daquele sangue primevo. Porém ele poderia apenas estar usando o que havia roubado de minha mente.

Então ele tentou penetrar em minha mente novamente, mas eu o rechacei com uma imagem: um livro negro se fecha, e o meu nome em vermelho sangue está escrito na capa; eu o atiro em sua cara e ao mesmo tempo faço o livro se incendiar. Ele recuou um passo atrás cobrindo o rosto com a mão esquerda. Eu nunca havia visto isso acontecer antes: uma imagem se misturar com a realidade a ponto de ser tão convincente. Respondi:



— Nunca ouvi esse nome antes.

— Endímion… — um tanto quanto perplexo pelo choque contra a força da imagem. — Como foi que chegaste aqui? De que foges?

— De nada fujo eu! Na verdade eu vim em busca, apesar de que não saiba do quê exatamente… Talvez simplesmente busque: uma nova perspectiva; ou apenas uma nova obsessão…

E assim, estávamos conversando sem palavras ditas, mas projetadas mentalmente como se fossem, com entonação e cadência. Afinal, a noite poderia ser eterna. Era muito fácil esconder-se do Sol na curvatura do pequeno satélite, — ou poeticamente: nas curvas de Diana; mas a força de Apolo era lá dez vezes maior sem a proteção do Manto de Gaia. Continuei:

— Eu vim em busca de um desafio. Por pura luxúria eu vim em busca de uma divindade, de um ideal. Eu vim em busca de minha própria destruição, e eu vim em busca de inspiração, também. Quando enfim cheguei não soube o que fazer, tive vontade de gritar, mas não podia… tudo me pareceu uma grande tolice. Tudo o que encontrei foi o Silêncio, um dos mais completos silêncios que já experimentei. E o Silêncio… na verdade é a minha divindade favorita… e não pode ser outra coisa senão uma divindade feminina que me beija na boca e me cala numa excitação casta, doentia e viciosa. Quase sinto raiva pela provocação, se não a amasse: ela me lambe na face e diz “ama-me” sem quebrar a magia do silêncio. Destarte gritar perdeu o sentido, e eu caí sentado na beira de um abismo, desperdiçando minha noite eterna com pensamentos voláteis como éter, desperdiçando minha eternidade em uma noite eterna que jamais terminaria como eu gostaria: no seio de uma Beleza Suprema, um Ideal Indestrutível, nem que isso fosse um fragmento de uma coisa absurda e incompreendida que ousamos chamar de Verdade. Mobilizar-se em direção a isso que estou dizendo, ou manter qualquer esperança de alcançá-la, por mais inocente que seja, culminará em desespero… e a minha única salvação é dominar a verdadeira mágica de moldar os sentimentos e transformá-los em pura poesia… pois haveria uma outra linguagem para esse desespero? A única verdade é a de que somos capazes de enganarmos a nós mesmos com abandono e sinceridade… E se assim não fosse não haveria a tensão que nos faz sentir vivos: através da paixão, através do amor e através do medo… as nossas ilusões mais triviais entre tantas outras! Destarte engendramos nossa própria condenação e redenção unidas nessa ilusão e única concepção de vida que conhecemos até agora.

Órion, ainda com aquele olhar fixo, como se o próprio leão estivesse caçando em solo lunar. Porém, aquele olhar buscava uma profundidade ao estar, certamente, avaliando a minha força, aglutinando todas as informações possíveis. Por fim disse:

— Endímion! — disse como se fosse o Chamado dos Deuses. — Senta-te comigo à beira de um desses mares áridos e sombrios. Eu vejo uma lacuna em ti, um espaço imenso em que deveria haver alguma coisa, mas estranhamente esta falta te acrescenta.

— E o que acontece quando o Antílope aceita o convite do Leão para jantar? — e enviei-lhe uma imagem do traiçoeiro golpe que me pegara desprevenido.

— Oh, perdoa-me… eu ainda estava em uma espécie de sonho semi-consciente, e aquilo não foi nada além de um reflexo de proteção territorial dos que dormem. Eu não tenho nada contra ti. Devo estar dormindo há muito tempo… não sei que tipo de forças ainda me mantém em pé. Venha! — Ele estendeu-me a mão de longe e sorriu, suavizando aquela severidade natural que as espessas sobrancelhas e os contornos largos e robustos demais dão a um semblante.

Então empurrei gentilmente a gravidade para longe de mim ao erguer-me do solo, e em um milionésimo de segundo estava frente aos dois metros e meio de Órion, pairando na altura de seus olhos que demonstravam um pequeno espanto.

— Certo! — aquiesci. — Mas vais ter de me contar a tua história…


Órion: Mitologia Greco-Romana: Assim como a maioria dos antigos mitos que são cultivados mesmo antes da Grécia Antiga, existe uma quantidade enorme de variações para as narrativas das aventuras de Órion. Uma delas conta que Órion, filho de Poseidon (Deus dos Mares e irmão de Zeus) e Euryale (filha do Rei Minos de Creta), caminhou sobre as águas até a Ilha de Chios, onde se embebedou e acabou violando Merope (filha do Rei Oenopion de Chios). Oenopion (filho do Deus Dionísio) vingou-se pedindo ao pai que enviasse os sátiros para colocá-lo em sono profundo, assim podendo cegar Órion. Ele foi expulso de Chios e vagou até Lemnos, onde Hefesto (o Deus manco do Fogo e da Forja que desposou Vênus) ordenou que seu servo Cedálion guiasse Órion até o extremo leste, onde Helios, o Sol, o curou. Órion seguiu, ainda com Cedálion em seus ombros, novamente a Chios para vingar-se de Oenopion, mas este já havia fugido e se escondido. Seguiu depois à Creta onde caçou com Diana e sua mãe Latona. Durante tal empreita resolveu que destruiria toda a besta sobre a Terra, e então a Mãe Terra opôs-se enviando um Escorpião Gigante no encalço de Órion. A criatura matou o caçador e Diana pediu a Zeus que o colocasse entre as estrelas. Zeus o fez, e também transformou o Escorpião em uma constelação. Outra versão diz que enquanto viveu como caçador com Diana, estivera para casar-se com ela. Apolo, com ciúmes da irmã, censurava-a, mas sem resultado. Um dia, maliciosamente, Apolo desafiou Diana, a Deusa-Arqueira, a acertar um ponto distante que se movia no mar. Diana venceu o desafio, porém mais tarde veio a descobrir o corpo de Órion na praia ferido fatalmente por sua flecha. A Deusa, vertida em lágrimas, situou Órion entre as estrelas.

sábado, 24 de outubro de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte VII) — A Gravidade da Questão…

A gravidade é doce. É como ser suavemente puxado para a alcova dos amantes; um convite. A gravidade sussurra: “Vem…”, toco o solo mais do que gentilmente, cerimoniosamente. Qualquer marca que fizesse poderia ficar lá para sempre. Para sempre… tal coisa definitivamente não existe! …senão enquanto acreditarmos… enquanto acreditarmos que o para sempre é agora.

A gravidade é doce. Como se eu trouxesse a própria Lua ao meu alcance ao me abaixar para tocar o solo com minhas mãos; meu vício da textura.

Sentado à orla do meu Admirável Mundo Novo, velho mundo ganha uma conotação mais abrangente.



Na posição do Le Penseur, eu era a inspiração para uma nova versão; Le Vampire Penseur:






Por vezes é necessário
afastar-se da humanidade
para ser mais humano…

Por vezes é necessário
deixar de ser humano
para entender a humanidade…

Um por vezes constante
torna-se um sempre…
Um hábito da eternidade!

E para sempre
mais humano que humano…
mas ainda parte da Natura?


Sentado à orla dos meus pensamentos, eu procurava um sentido para tudo aquilo, um sentido que transcendesse o simples momento de tamanha beleza. Então te senta ao meu lado. Pensa que isso também é teu: o momento. Pensa que tudo isso é teu: nossas esferas dançantes. Pensa em tudo o que está sendo feito lá. Quem de nós será o primeiro a rir, ou a chorar?

Sentado à orla de um abismo infinito. Para baixo, para cima… são conceitos tão sem valor por aqui; padrões da limitação humana. É mister para os humanos que tudo caia para baixo… A gravidade na Terra é um demônio que puxa os pés das criancinhas e sussurra em seus ouvidinhos: “…não podes voar…”; um padrão imposto da limitação humana, e assim elas crescem. Os humanos acreditam tão facilmente nos demônios! Antes acreditassem em si mesmos; mas maldito o homem que confia no homem.

A raça humana atualmente é sinônima de desperdício. Humanos desperdiçam. O verbo é intransitivo para sujeitos humanos. Talvez o passado de milhares de anos da fatídica luta diária pela sobrevivência tenha gerado esse padrão comportamental de um cão que devora em desespero e engole quase sem mastigar tudo o que lhes couber no prato mesmo quando há fartura.

E quando não há prato, nem comida, ainda há barro seco misturado com um pouco de sal e manteiga para comer. E eles devoram em desespero e engolem tudo quase sem mastigar no meio de uma guerra sem sentido; ó padrão da limitação humana. Daqui eu vejo a fome e sua boca enorme. Daqui eu vejo a guerra e suas garras afiadas.



Às vezes me sinto como Akasha… querendo acabar com a fome eliminando os famintos; querendo acabar com a guerra destruindo tudo. É como ensinar uma criança a não ser agressiva batendo nela. Akasha podia até ter feito a coisa funcionar, mas ela quis zerar o contador da raça humana já com milhares de anos de conta… Ela quis apagar o que não se pode delir: O Tempo. E qualquer intervenção não deve cair diretamente sobre os humanos, mas sim sobre esse padrão da limitação humana, esse paradigma da humanidade, esse demônio milenar que paira sobre suas cabeças…

…e sobre a minha cabeça algo me atira de cara na superfície do satélite; “meteorito?”, pensei. Mas metros e metros de inércia e então o atrito deixando, para sempre, marcas… mais em mim do que no solo…

…no solo…
…no solo… …perdendo…
…no solo… …perdendo… …a consciência…


“Aquele que um dia ensinar os homens a voar deslocará as barreiras; fará saltar todas as barreiras, dará à Terra um nome novo, chamar-lhe-á ‘a Leve’.”
[NIETZSCHE, Friedrich W. Assim Falou Zaratustra. "Do Espírito de Gravidade"]


Le Penseur: O Pensador é uma das mais famosas esculturas de bronze do escultor francês Auguste Rodin. Retrata um homem em meditação soberba, lutando com uma poderosa força interna. Originalmente chamado de O Poeta, a peça era parte de uma comissão do Museu de Arte Decorativa em Paris para criar um portal monumental baseada na Divina Comédia, de Dante Alighieri. Cada uma das estátuas na peça representavam um dos personagens principais do poema épico. O Pensador originalmente procurava retratar Dante em frente dos Portões do Inferno, ponderando seu grande poema. A escultura está nua porque Rodin queria uma figura heróica à la Michelangelo para representar o pensamento assim como a poesia.

Akasha: Sob a descrição: “Quase linda demais para ser verdadeiramente bela, por sua beleza superou qualquer senso de majestade ou mistério profundo.”, tornou-se o primeiro vampiro nas Crônicas Vampirescas de Anne Rice. Em A Rainha dos Condenados tenta impor uma nova ordem mundial e matar 90% dos homens do mundo, alegando que eles são a causa da desgraça de toda a Terra, assim, podendo erigir um novo Éden, no qual cada mulher reinaria, com Akasha entronada como deusa eterna e com Lestat ao seu lado. Debaixo de sua beleza física, Akasha sempre foi uma pessoa fundamentalmente sombria, vazia, niilista, sem senso de moralidade, ética, ou de compaixão humana, e suas ações foram quase sempre baseadas em sua insaciável necessidade de preencher seu vazio interior, mesmo antes de se tornar um vampiro. Akasha também é a palavra em sânscrito correspondente a Aether, que é a divindade grega que personifica o céu ou os ares elevados respirados pelos Deuses do Olimpo, filha de Erebus e da Noite ou do Caos e da Escuridão.

sábado, 17 de outubro de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte VI) — Coração Negro…

Obliteração… era o que eu levava em minha Sinistra.

Eu pensava nos que enlouqueceram. Mas eu não deixaria isso acontecer a mim. Eu só queria que entendesses. Mas eu mesmo me sentia no comando de uma nave à deriva. Mesmo que meu norte celestial fosse Diana… A Beleza da Natureza sempre suscita a Natureza da Beleza… Isso não é paixão suficiente para ti? Eu só queria que visses o que vejo. Mas todas as sensações e os sentidos não estão no sangue?

Os séculos me roubaram todas as certezas… e o que fora certeza um dia foi extraído do meu próprio tempo. Eu troquei meu tempo de vida pela eternidade. Tudo isso é uma grande ironia… a minha realidade… o que eu me tornei… todo o meu poder… todo o meu sentimento de impotência… vontade de viver… de expirar… culpa… redenção…

E eu escolho me apaixonar por uma Deusa. Algo que só habita nos meus ideais. Uma paixão que faz meu espírito ferver… e gela meu coração…

Mas em minha Destra eu levava justamente meu coração. Eu me agarrava a ele com a certeza de que é nele que reside toda a minha verdadeira sabedoria.

Então eu cessei minha incrível velocidade estacando no nada. Abri meus braços largamente e juntei num rápido movimento minhas mãos frente ao meu peito para fundir o conteúdo que trazia nelas. A obliteração seria absorvida cabalmente pelo meu Coração Negro. Pois essa é a função específica de um Coração Negro: absorver tudo, permanecer intacto e ser indelével.

Assim, como se despertasse de um sonho, emergi para a consciência do que havia ao meu redor erguendo a cabeça e os olhos. Estava lá Diana. Não mais um adorno no céu, mas um Admirável Mundo Novo…



“O gênio do coração, tal como possui aquele grande incógnito, o deus tentador e receptor das consciências, cuja voz sabe descer até as últimas trevas da alma, que não diz uma única palavra, que não lança um só olhar no qual não haja uma dupla intenção sedutora, cuja maestria especial é a de saber revelar-se, não o que ele é, mas sim aquilo que para os que os seguem se torna um constrangimento a mais para vinculá-los sempre em redor de si, a fim de segui-lo mais íntima e radicalmente…

“O gênio do coração, que faz amainar todas as vozes altissonantes e vaidosas, que ensina ouvir em silêncio, que alisa as almas enrugadas, ensinando-lhes um novo desejo: o desejo de ficar quieto e jazer, como um espelho d’água onde se reflita o céu profundo e calmo…

“O gênio do coração que ensina à mão torpe e impulsiva como deve conter-se e ser mais delicada; que sabe descobrir o tesouro oculto e esquecido, a gota de bondade e de doce espiritualismo escondida debaixo da camada sólida do gelo; que é uma varinha mágica que atrai as pepitas de ouro soterradas há muito tempo no lodo e na areia…

“O gênio do coração de cujo contato todos saem mais ricos, não abençoado e surpreendido, não feliz e oprimido por ter obtido um bem alheio, mas sim mais rico de si mesmo, renovado, reflorido, beijado e compenetrado quase pelo sopro de um zéfiro mais tenro, mais frágil, ainda cheio de novas esperanças sem nome, cheio de intenções, repleto de novas vontades e de novas energias, transbordante de desdéns novos e de reações originais…”
[NIETZSCHE, Friedrich W. Para Além do Bem e do Mal. "O Que É Aristocrático?"]

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Segredo dos Prismas…

Sabes muito bem que posso ver teus dedos apressados correndo desprendidos sobre as letras e palavras inteiras: Um libertar…

Na volúpia do momento do escrever, por mais que pareça que se livra de algo… bom… digo ser o exato oposto: O escrever é consolidar e pôr tudo em perspectiva a si mesmo. Porém a tua perspectiva não é a única. E essa realidade subjetiva é um egoísmo redimido de culpa; posto que já é suficientemente difícil assimilar as coisas a partir do prisma da nossa própria percepção.

Mas há um segredo dos que projetam a percepção e tomam emprestados esses prismas de outrem: Sabem muito bem isso não ser vantagem nenhuma; muito pelo contrário… Às vezes há um grande temor em quebrar esses prismas emprestados, porque, de certa forma, já foram seus um dia. E isso é só parte do segredo…

E é por isso que os instantes são tão preciosos: A luz que passa através dos prismas dificilmente pode ser reproduzida com perfeição. Angulação, intensidade, coloração e combinações com outras luzes são apenas algumas variáveis de uma gama infinita quase. Mas enquanto houver janelas, haverá luz… e possibilidade para novos momentos… novos instantes…



…merci…
…pour simplement exister…

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Eudora…

Apresento obras feitas com sangue. Levo tudo à ruína com um simples verso quando louvo o passado. Por isso leva-me para dormir fora do tempo e dá-me de beber da tua acidez que não distingo entre sonho e realidade.

Salvação… O que me faz pensar em salvação é o fato de como posso parecer perspicaz enquanto melancólico… No quanto uma composição do sol e nuvens brincando de luz e sombras pode me comover… O que? …se sinto isso pelas mulheres? Olha, é perigoso irritar uma criatura irascível assim como Eu…

Eudora é minha nos sonhos
Eudora canta “Busca-me”
Eudora conta estrelas comigo
Eudora diz “Busca-me”
Eudora conta tudo o que eu não quero saber


Achas que temo a resposta? …é claro que sinto, mas a questão não é capacidade, e sim permissão, se tenho minha permissão…
Permito… mas só àquela que passa distante e a favor do vento, pois se eu a farejasse… seria fatal… talvez mais a mim do que a ela.
Mas isso não passa de devoção à beleza, à pura estética. Ora, de onde achas que vem a inspiração senão de natureza?! E ainda pertencemos a ela, não?!

Eudora em meus ouvidos sussurra:
“Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que destruirias a ti mesmo?
Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo?”
[ECLESIASTES 7:16-17]

Por que não falas de redenção?
Por que me condenas?
Devo me apressar para a morte antes que tomem o meu lugar?

Eudora em meus ouvidos ronrona:
“Redenção… redenção…”
A Paixão… Paixão é minha redenção…

Juntos Eudora e Eu murmuramos:
“E quanto mais desmedida e louca…”
…mais bela será a paixão.

E quando sonhei Eu era Eudora.
E quando novamente desperto Eudora era minha mente.

…m’esprit a nom de femme…
…et fait ce qui veut…


Domingo, 23 de Novembro de 2003

sábado, 12 de setembro de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte V) — A Sabedoria, A Loucura e O Frio Espaço…

“Terrível é estar a sós com o juiz e o vingador da nossa própria lei! E como um astro precipitado no espaço vazio e no meio do sopro gelado da solidão.”
[NIETZSCHE, Friedrich W. Assim Falou Zaratustra. "Dos Caminhos do Criador"]

Todo aquele vazio estava cheio de possibilidades. Era isso que me preenchia, que me invadia e me extasiava. Eu estava sozinho… mas não me sentia só.

A minha mente era como uma aranha… a tecer teias por puro prazer… por estar farta de insetos.

Eu divagava devagar, movendo-me a uma velocidade incrível, mas sem sentir; eu apenas sabia. — São poucas as coisas que realmente temos certeza! — Eu estava explorando o inexplorado como batedor de um séquito que jamais viria… eu estava sozinho… mas não me sentia só.

…essa foi uma lição da infância…
A solidão nunca foi uma inimiga, mas uma aliada da minha imaginação…
…e uma mão irrefutável a me guiar a mim mesmo.
…desde então eu nunca pude escapar de mim mesmo…
…o advogado e o acusador de mim mesmo…
…dualidades se chocando dentro de mim resultando em um buraco, um abismo chamado loucura. Tal abismo só pôde ser preenchido com conhecimento; aqui está mais um Estratagema da Existência Secular! O conhecimento é o alicerce da consciência: como se fossem estacas que apóiam onde necessário, não importa o quão fundo o abismo as levar. Se achas que estás livre de recalque, engana-te! Mas sempre é possível fazer ajustes, reforços e novos escoramentos. O ideal seria um monobloco do conhecimento universal interconectado solidamente, polimericamente, a ocupar cada fresta do abismo. Podes tentar… mas o conhecimento de toda a Terra e sua história assentado desde o fundo, interconectado solidamente, não preencheria um centésimo do abismo; por isso alguma sabedoria naturalmente nos apóia nas estacas do conhecimento.

…mas naquele momento eu vagava entre as estacas… dentro do abismo… e eu confesso: nessas horas a loucura é algo que faz sentido… uma consideração viável… não no sentido de fuga, não! Jamais! Eu digo: ela, a Loucura, faz totalmente sentido… por uns instantes…

…por uns instantes…
…sinto frio…

…parfois me sens comme un garçon…
…et c’est inconfortablement sain…

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte IV) — A Sedução do Nada…

Resolvera eu iniciar a ascensão na mesma região do último encontro. Solenemente eu me despedia de Gaia, e Diana à minha frente refletia-se no espelho dos mares. Mesmo a Beleza Suprema nunca é suficiente. Muito lentamente eu ascendia, quase apenas pairava, ponderando no que eu faria, no melhor caminho, nas coisas que poderiam me ocorrer e nas coisas que eu jamais adivinharia. — E não é aí que está a diversão?! — A Lua já avançara bastante até eu ter iniciado a subida de verdade.



Alcancei um corredor de nuvens que parecia ser um mundo paralelo ao que estamos habituados. Um mundo harmonioso regido por ventos caóticos, repentinos e inconstantes, e colorido sempre em máximos contrastes: A ira de Apolo e a serenidade de Diana a se fazer de tímida, oculta pelas nuvens.



Continuei subindo até onde reina a Deusa do Silêncio. O Silêncio sobre todas as coisas; uma de minhas divindades favoritas. Diana agora banhava-se nas cores da atmosfera, nos ares da beleza… o manto de Gaia. — Lembro muito bem o que aconteceu com Acteon ao flagrar a Deusa a banhar-se: fora transformado em cervo, caçado e morto por seus próprios cães de caça. Irônico… — Então avancei pelo lado oposto. O respirar já pura ilusão, uma mania… apenas o arfar dos pulmões.



Avancei até curvar o horizonte, até que quilômetros de nuvens coubessem em minha mão. Nada mais entrava em meus pulmões por mais força que fizesse e agonizei por uns instantes antes de desistir do processo. Então exalei qualquer resíduo gasoso dos pulmões sentindo uma pontada terrível desde a base das costas até o peito e uma tremenda pressão interna. Novamente o desespero por inspirar e nada preenchia meus pulmões. Respirar água havia sido bem mais fácil e menos agonizante; achei que seria o contrário agora. Estava tremendamente enganado! Parei com gelo na boca e meu lacrimejar cortando meus olhos devido às baixíssimas temperaturas. Tentei gritar, mas já não havia ar para minhas cordas vocais. “Ao menos a vista é bela”, pensei. Ao menos havia senso de humor ainda. Tive de parar ali. Não suportava mais.



Concentrei-me no Silêncio, em minha mente. Silenciar o meu corpo. Fazer do corpo um veículo para a mente e escravizar as suas falsas necessidades. Cerrei os olhos e despenquei no Nada dentro e fora de mim, onde não havia tempo, obrigações, necessidades, e o conceito do “eu” também era o conceito do Nada abraçando Tudo. Talvez tenham se passado horas, e então despertei repentinamente com o espasmo do sonhador que despenca de algum lugar, com receio de abraçar de vez a obliteração.

Eu estava pronto.

Avancei mais algumas dezenas de quilômetros rapidamente para dar uma última olhada para trás…



“Em meio a outros menos notáveis,
Surgiu uma forma quebradiça,
Um fantasma entre os homens: solitário,
Como a nuvem derradeira no fim da tempestade,
Cujo trovão é o dobre fúnebre; ele, tal como imagino,
Contemplou a beleza nua da Natureza
Como Acteon, e agora fugia sem rumo,
Com passos débeis, através dos desertos;
E seu próprio pensamento é o cão que devora
Seu dono e sua presa, pelo mundo afora.”
[SHELLEY, Percy B. Adonaïs, § 31.]

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte III) — Contagem Regressiva…

Ascender é uma doce vontade…

Vesti-me com uma roupa inteiriça de couro preto fosco de acabamento rústico cuja textura lembra a pele de um lagarto. Como uma segunda pele, até as botas acopladas ao conjunto, apenas minhas mãos e minha cabeça ficavam expostas. — Dificilmente dispenso a capacidade de sentir a textura das coisas com as mãos; isso é quase como um vício. — Na verdade nada poderia me proteger realmente além de uma roupa totalmente pressurizada. — Mas levante a mão quem consegue imaginar um ser de movimentos ágeis, suaves e precisos dentro de uma roupa daquelas…

Eu já me enterrei no gelo algumas vezes, então os -50ºC que experimentei não fazem muita diferença para os -150ºC que enfrentaria; ao menos para minha sensibilidade. Eu me preocupava com os mais de 100ºC que eu poderia encontrar. Os compostos alcalóides no meu sangue poderiam me incendiar facilmente, mesmo que por meio segundo. — Estou sendo muito técnico hoje? Ué?! Nunca te perguntaste por que nosso sangue é tão combustível?! Ou o porquê de nunca envelhecermos?! Ora, a síntese metabólica é feita através de alcaloides, não liberando radicais livres, mas sim, compostos que cada vez mais enrijecem nossa compleição. Enfim… — O vácuo era o desconhecido para mim, e é a isso que devemos temer, não?! Resumindo… se eu fosse morrer, que fosse em uma bela vestimenta.

Então ascendi pela pura vontade e uma doce pequena vontade de expirar nos braços vazios da escuridão e no conforto do nada…

à me recevoir
en tes bras…

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Passado, O Símbolo do Infinito e O Futuro…

Para mim o tempo passa diferente…
…e não tem como explicar isso…
…não hoje… não agora!

O Presente, o “agora”, para os humanos, dura cerca de 12 segundos. Já eu… eu não tenho mais passado… O meu Presente habita sob este símbolo: ∞ — O Símbolo do Infinito —; meu terrível cérebro das trevas não me permite qualquer obliteração. E às vezes cometer um erro, algo de que me arrependa deveras, pode ser fatal para mim. Sim! O esquecimento é uma benção…

O que se me assemelha a uma vaga lembrança, a algo que se tenta lembrar como se enxergando através de águas turvas, é o futuro… porém, às vezes tudo é tão claro e dura aterradores 12 segundos em que tudo parece parar destacando algo… uma saliência na percepção. Meus queridos, o tempo é a maior das ilusões… e os humanos adoram ser enganados. Eles vivem para isso! E eu ainda sou um pouco humano, não sou?! Não sou?! — rio-me.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Obsessões e Estilhaços…

Estive pensando…
O meu posicionamento privilegiado para captar possibilidades e a minha ousadia são a chave para a Fatalidade… Mas eu já desconstruí o futuro uma vez, não?! — eu e meus Acintes Temporais…

Eu sou um construtor vindo da Adversidade e um destruidor da Obviedade.
Eu apenas quero salvar o mundo…
…absurdo… — já vimos coisa assim em prática, não?! As Obsessões são o que nos mantém nessa existência cheia de trevas e vermelho sangue… Quando não são a nossa destruição…

Penso em quantos já tentaram se livrar desta casca marmórea e não conseguiram… E, afinal de contas, o que sabemos realmente do post mortem?
Quanto a isso…
Muita coisa não passa de um Jogo de Conjecturas; a certeza é um elemento raro e quase mágico.
…mas quem é que não quer salvar o mundo?! …à sua maneira…
É como querer arrancar os olhos de quem não sabe admirar o céu noturno ou uma bela poesia.
Essa unidade distinta que somos é feita de estilhaços e pedaços oscilatórios e momentâneos, todos esperando uma chance para se constelar.

Então aqui está mais um Estratagema da Existência Secular: Descobrir como Juntar esses Estilhaços…


Constelar: Termo junguiano: a entrada em atividade de um arquétipo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte II)

Ergui-me dos Mares como um Poseidon de Asas Invisíveis; como um projétil lançado de dentro dos Mares. Faminto. Não por sangue, claro. Eu tinha acabado de fazer um banquete exótico e… poderia eu usar o termo: Rejuvenescedor? Bom… no mínimo afrodisíaco. Eu estava de forças renovadas e deveras excitado e faminto por coisas novas…

Na Superfície havia um belo presente para mim; Diana em sua melhor vestimenta, o fino Manto Dourado… A Lua na altura do horizonte, completa, enorme e ornada de ouro. Cessei tão repentinamente o movimento de vôo que cada gotícula de água que insistia em se agarrar a mim foi arremessada para cima, no mesmo instante que uma forte corrente de ar, como se fosse um beijo de Diana soprado para seu Endímion, jogou meus cabelos para trás, fazendo-os esvoaçar em cachos e livrando meu rosto pálido, como que para ser admirado. — Não seria assim que Posseidon se ergueria dos Mares?!

Mas era eu quem estava hipnotizado. Aquele momento tem um nome… ele se chama Pureza. Enquanto minha excitação atingia níveis altíssimos… pura Vesânia me roubando de mim mesmo. Então… é assim que eu digo que algo novo pode ser conseguido com um fechar e abrir de olhos novamente… É claro que eu sempre tive um fascínio pela Lua, mas como disse, dessa vez foi pura Vesânia, e foi assim que toda a sandice das idéias que vou contar a seguir começou.

Eu passei aquela noite inteira pairando no ar, nu, imóvel, no meio do nada observando a Dança de Diana, lentamente girar e subir ao zênite se despindo do Manto Dourado para mim. Mas antes de seu ocaso pude sentir a presença de Apolo se aproximando, como se enciumado por saber de meus desejos por sua casta irmã, puxando A Carruagem do Sol e Os Sinos do Inferno.

“Ó Diana, Divina Intocada, serás minha!”, foi o que eu disse antes de sumir da Logo Face Toda Iluminada da Terra…

continua…



Diana: Mitologia Greco-Romana: Deusa da Lua, virgem caçadora sempre cercada de ninfas e infalível arqueira. Filha de Zeus e irmã de Apolo.

Endímion: Mitologia Greco-Romana: “Endímion era um belo rapaz que apascentava seu rebanho no monte Latmos. Numa noite tranquila e clara, Diana, a lua, viu-o dormindo. O frio coração da virgem deusa aqueceu-se à vista daquela beleza inexcedível, de tal modo que ela se inclinou, beijou-o e ficou a observá-lo enquanto dormia. Outra história é a de que Zeus dotou-o com o dom da juventude perpétua, juntamente com o dom do sono perpétuo. De alguém que tinha esses dons não teremos tantas aventuras a narrar. Conta-se que Diana cuidou para que sua vida sedentária não prejudicasse a sorte de Endímion, pois fez seu rebanho aumentar, o que o protegia contra as feras. A história de Endímion tem um encanto peculiar, pois revela importantes significações do humano. Vemos nele um jovem poeta, sua imaginação e seu coração procurando em vão por aquilo que pode o satisfazer. A hora predileta de Endímion é aquela do luar silencioso, pois é sob os raios brilhantes da lua que ele alimenta a melancolia e o ardor que o consomem. A história remete ao amor poético com as suas aspirações, uma vida vivida mais nos sonhos do que na realidade, e uma desejada morte prematura.” [BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia.]

Vesânia: Nome comum às várias espécies de alienação mental.

Apolo: Mitologia Greco-Romana: Deus do Sol. As histórias contam ser ele o único a ser capaz de dirigir a Carruagem Chamejante do Dia. E que nem mesmo Zeus, de cujo terrífico braço direito são lançados os raios, pode fazê-lo. A carruagem é puxada por ardentes cavalos que soltam fogo pela boca e narinas, e o próprio Apolo assume ser muito difícil de guiá-los quando ariscos e resistem ao comando das rédeas.

Os Sinos do Inferno: Faz menção a um alerta velado em que um vampiro pressente a aproximação do Sol, algo bem sutil, mas que incomoda deveras os mais jovens. Geralmente é um momento silencioso, pouco antes dos pássaros começarem sua Orquestra da Fome. É um sentido importante quando se tem sangue novo nas veias.

sábado, 20 de junho de 2009

Um Portal entre a Barreira do Som e do Silêncio…

Desculpe a demora…
…Mas não! Eu não estive enterrado desta vez…
…O completo oposto! Estive voando por aí…
…Voando por aí como um Raio Vermelho…
…Rasgando minhas roupas no Silêncio que reside além da Barreira do Som…

A Deusa do Silêncio é uma de minhas favoritas… e a tentação de pronunciar o seu belo nome pode por tudo a perder… e mesmo além daquela barreira não ouso. Eu… que sempre me disse um homem da Ciência contra qualquer tipo de Superstição! — rio-me. Rio de mim mesmo! Veja!!! Eu sei fazer isso. Sempre soube, não?! Sim! Está aqui mais um Estratagema da Existência Secular.

E é Nu que me sinto Divino… humpf!, Divinamente Demoníaco, ou melhor: Um Titã! — Divinamente Demoníaco… percebes tu que sempre sustento isso como um Pensamento Dominante: que minha Simples Existência é a participação do Mal?! — E não foi essa a razão ,ou loucura, da imolação de muitos? E não são os Antigos os mais suscetíveis a isso? E não foi com minhas andanças pela antiga “Djón küo” que aprendi a afirmar com interrogativas? Mas essa é uma outra história… — Bom… voltando ao assunto: Participação do Mal. Mas e daí?! Vou me atirar ao Sol por isso?! — Sim! Eu fiz isso, mas não deu certo, tu sabes… Rio-me novamente. — Mas a conclusão é bem simples, irmã incestuosa do Sangue e do Tempo: Se não podes morrer… VIVA! — Neste ponto minha gargalhada é aquela metálica… ecoativa…

Somos uma Regra Quebrada? Sim! Somos uma Conexão Indecorosa entre a Vida e a Morte? Respondas tu! — Esta pergunta é um demônio disfarçado, cuidado! — Porém eu fiz o meu caminho. Eu estabeleci para mim um lugar na ordem das coisas. Ao menos eu trabalhei um conceito assim. Então meu nome do meio hoje é Portal. E Zeus e Cronos terão de dar as mãos para me tirar daqui!!!


“Djón küo”: Os chineses pronunciam o nome de seu país assim e significa: "País Central". Essa é a grafia em chinês simplificado: 中国.

Zeus e Cronos: Mitologia Greco-Romana: A história de Cronos (pai) e Zeus (filho) é marcada por despotismo e rebelião. Fora profetizado a Cronos que um de seus filhos acabaria por tomar o seu lugar, destarte, Cronos não hesitava em devorar cada filho seu ao ser concebido. Réia (mãe) conseguiu salvar o pequeno Zeus desse destino logrando Cronos. Zeus, então, pode crescer e casou-se com Métis (Prudência), que preparou uma poção para Cronos, fazendo-o regurgitar todos os filhos engolidos. Zeus, com a ajuda de seus irmãos, rebelou-se contra Cronos e os outros titãs, derrotando-os. Alguns foram atirados no Tártaro (inferno), outros receberam outros castigos. Atlas, por exemplo, foi condenado a sustentar o céu em seus ombros. Zeus também fora alertado profeticamente por Prometeu (um titã), que, um dia, um de seus filhos tomaria seu trono no Olimpo. Contam as histórias que Aquiles poderia ter sido esse filho se Zeus tivesse se casado com a Nereida (ninfa dos mares) Tétis (mãe de Aquiles). Mas essa é uma outra história…

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte I)

Sentir vivos?
…é…
…quem sabe…
Vamos ver se consigo dar-te a minha perspectiva das coisas…
…minhas aventuras continuam…
…e eu achei que cedo ou tarde os séculos me entediariam…
…mas não sou eu o substituto perfeito do Príncipe Moleque???

…depois do meu regresso, passando das savanas africanas para Glastonbury. — Eu te contei sobre isso na última missiva. — Bom… eu devo ter perdido algum medo oculto e criado outros tantos… enfim… apenas deixei que o Dom da Nuvem me guiasse num eterno fim de tarde mirando o Oeste… — Oh, para todo o sempre. Eu queria! — Perguntando-me até quando poderia e em que noite da terra cairia. — Senti-me como a criança que gira o globo terrestre e aponta o dedo aleatoriamente só para ver onde vai parar…

Devo ter sonhado com essa imagem e durou cinco semanas até eu adormecer e cair próximo à Oceania em mares profundos. Só fui despertar na metade daquela noite… — Podes me imaginar o desespero? — Despertar na escuridão sem saber onde e envolto por quilômetros de pressão d’água… Porém confesso que o desespero não durou muito — não deveria eu estar morto há séculos? — Destarte descobri que o nosso respirar é pura superstição — bom… mais ou menos.

Gostaria de descrever um por um os seres estranhos que descobri naquelas profundidades — um grande número deles provavelmente nem está catalogado, mas creio que faltaria espaço aqui. — No explorar desse mundo novo fui me deixando levar pelas correntes marítimas e encontrei uma das piores bestas que já enfrentei, digno de ser chamado de Demônio Branco dos Mares… Céus, aquele tubarão branco não queria nada menos do que o Dom das Trevas. Foi um temor inédito que senti e não sei por que me lembrei do meu feroz rinoceronte que deixei na África. Mas aquele tubarão enorme tinha os olhos do próprio demônio e não me deu nenhuma brecha. Eram seis metros de pálida sede de sangue…

Ele me rodeou três vezes gerando um sutil padrão de movimentação nas águas ao meu redor. Ele atacou no sentido do fluxo que havia gerado e eu fiquei imóvel no entendimento que a alteração do padrão do fluxo da água denunciaria meu movimento de esquiva, por mais rápido que fosse, e o Demônio Branco ajustaria a trajetória de seu ataque. Cheguei tão perto daquela mordida, mas não pude contar quantos dentes. No último segundo eu apoiei minha mão esquerda no nariz dele e me impulsionei para cima como num salto mortal girando o corpo para frente em torno do apoio. O movimento teria sido perfeito se a nadadeira dorsal do monstro não tivesse me atingido na cara e me cegado do olho esquerdo.

Que desgraça! Tentei segurar firme em sua cauda, então, mas o demônio chicoteou me fazendo soltar e girando num movimento contínuo abocanhou meu braço esquerdo na altura do ombro. Meu grito foi um trovão submerso não me escapando nenhuma bolha de ar pela boca, e antes que ele começasse a se debater para arrancar o meu braço, eu imolei um fogo instintivo nele, que mais assustou do que feriu, num brilho de um segundo — é muito difícil usar essa técnica dentro d’água.

Ele se afastou e foi seguido por um rastro de Sangue das Trevas e começou a rodear o sangue tentando concentrar toda aquela mancha vermelha. Eu me afastei um pouco, ele não estava muito longe, parecendo cada vez mais louco pelo sangue, frenético, ele parecia tremer-se todo em êxtase demoníaco. Observando aquilo eu analisei a minha situação considerando tudo: o fato de eu estar no território dele; o fato de eu estar exausto, sem dormir direito há mais de um mês e nem me lembrando da última vez em que tinha me alimentado; o fato de que a falta de oxigenação nos meus músculos diminuía e muito a minha força física e retardava meus movimentos. Entenda que eu poderia ter esmagado o coração dele sem muito esforço com a minha mente em qualquer momento, mas nem cogitei fazê-lo. — Quem é o verdadeiro Demônio?! Rio-me às gargalhadas.

E naquele momento eu tinha um braço e um olho esquerdos inutilizados. A minha grande idiotice foi confiar totalmente na minha agilidade e força física. — Talvez se eu estivesse em perfeitas condições teria dado certo; não foi o caso. — Mas eu sempre fui bom com a telecinese, não fui?! E também entendi que o Dom da Nuvem é apenas uma derivação disso, portanto, podendo ser aplicado dentro d’água.

O Demônio Frenético se refestelava no sangue enquanto eu testava rapidamente os meus movimentos. Interessante foi que a absorção do sangue pelo demônio gerou uma proto-conexão entre nós, e o que pude vislumbrar então, foi um demônio dentro do demônio, um Demônio do Sangue. — Seria eu culpado pela mácula na inocência da besta? — Mas aquele era um momento de guerra e não havia muito espaço para essas questões e, já que ele, o Demônio Branco, não vinha, lancei-me à frente projetando massas de água em sua direção com minha vontade e dispersando meus vestígios de sangue. Ele ficou notavelmente furioso, atirando-se em minha direção; “ótimo”, pensei. Com minha nova mobilidade pude utilizar uma esquiva milimétrica e golpear o flanco esquerdo do bicho com a mão esticada em forma de lâmina e me afastar rapidamente.

Golpeei com a força física e a vontade cinética combinadas, fazendo com que metade do meu braço penetrasse em sua carne. Ele, parecendo nem ter sentido o golpe, tornou então à tática inicial me rodeando várias e várias vezes, ameaçando investidas para avaliar meus movimentos. Permaneci imóvel. Usando minha vontade fiz cessar o movimento do torvelinho ao meu redor e previsivelmente a Besta dos Mares investiu contra mim. Eu usei o mesmo movimento de antes para “saltar” sobre meu adversário — agora usando o braço direito, claro. — Com o ataque previsto e o melhor controle dos movimentos, executei o movimento com perfeição, girando o corpo e me posicionando estrategicamente sentado em seu dorso, segurando em sua barbatana e depois cravando minhas garras fatais em seu dorso até sua grande espinha dorsal.

Quebrei-a sem dó, paralisando a cauda do demônio. Ele começou a bater a mandíbula desesperadamente, com muita força, quebrando seus próprios dentes — o som disso era horrível. — Arranquei-lhe a espinha e bebi seu néctar enquanto recuperava a visão do olho esquerdo. Arranquei mais outro e sorvi tudo sendo invadido por uma sensação de Holismo Oceânico, enquanto recuperava o movimento do braço. O coração do monstro ainda batia, e como se fosse a redenção para ele, explodi-o. “Adeus, Demônio Ancião…”

Questionas o fato de eu ter dramatizado e tornado a besta vilã? E a história da humanidade não é justamente assim? — rio-me. — De fato aquele farejador de sangue sentiu que meu sangue não era comum… ele farejou o poder no meu sangue e o quis para si… Mas o ponto principal dessa história é onde ela me leva. A história continua, tu sabes… sou eu que cesso a escrita…

[Sussurro]

…a Vontade é a maior Força que tens…

…poucos são os Verdadeiros Imortais…

…au revoir ma cher ensorcelant…
…dansant ensorcelant…




Dom da Nuvem: Capacidade de voo.

Demônio Ancião: Os tubarões são formas de vida muito antigas na terra, posto que atingiram esse estágio evolutivo dominante há muito, muito tempo… muito antes dos grandes dinossauros eles já estavam aqui, há cerca de 450 milhões de anos. Os dinossauros surgiram há 225 milhões de anos atrás.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O Rápido Avanço de Tudo que Jamais Será Estático…

…interessante…
…estava pensando em ti…
…que devia uma resposta…
…devo ter aberto demais a mente por alguns segundos…
…e tu, ligeira que és… … … … … … … …

…estou ocupado com coisas humanas demais…
…estou feito de sobras inteiras…
…meu nome do meio é Auto-Sacrifício…
…as madrugadas são mel carmim na minha boca…
…as madrugadas são uma faca na garganta…
…saí ao sol mais uma vez…
…e nunca mais foi como a primeira…
…estou empedernido…
…descobri um novo poder…
…meu nome do meio é Medusa…
…"oh, mais um século…"
…é o que grito — ouves?
…nada pode me derrubar…
…no entanto o barulho das folhas de uma árvore frondosa me faz chorar…
…não sosseguei até domar um rinoceronte…
…ganhei um novo nome nas savanas africanas…
…não tenho me alimentado…
…procurei os antigos e tudo é silêncio…
…silêncio…
…"então é isso?" — perguntei-me — "tudo?"
…o vento balançou as folhas da árvore frondosa nesse instante…
…instante…
…"oh, um milênio.." — gritei…
…o barulho das folhas se tornou insuportável…
…fui até Stonehenge…
…no duro e gélido ar minhas roupas se rasgaram…
…deitei no centro da Ciranda dos Gigantes voltado para Cassiopéia
…ouço tudo…
…silêncio…
…planície sem árvores…
…tenho novos olhos…
…tenho frio…
…entendo que ainda sinto…
…a Bretanha sempre vai cheirar como a Bretanha…
Glastonbury
…Sabes o que isso me lembra, não?!
…sim…
…das velas vermelhas e da conversa que nunca tivemos…
…silencio…

P.S.: …espero tê-la feito chorar… docemente…


Ciranda dos Gigantes: Referência a Stonehenge.

Cassiopéia: É o nome de uma constelação próxima do pólo norte celeste, com cerca de 30 estrelas visíveis a olho nu. A configuração das estrelas lembra a de uma figura humana entronada, só que de cabeça para baixo. Para os gregos, isso representava a punição por um crime severo.

Glastonbury: É uma pequena cidade turística cercada de mitos e lendas em Somerset, sudoeste da Inglaterra. Dentre estas lendas estão as da passagem de Jesus ainda criança e José de Arimateia pela Bretanha, o Santo Graal trazido por José de Arimateia para a Bretanha, e as Lendas Arturianas e a localização da Ilha da Avalon como sendo o monte Glastonbury Tor.

Um Momento Perdido no Tempo…

Sim, sim… que tua atenção é qual de Ninfa que colhe flores no campo…
Então, agora, com este predicativo de ser mais palpável, ou, não-virtual, nas tuas palavras… impedirá de me sugerir a ti como uma parte obscura de tua psique apenas? …pelo caráter das coisas que digo às vezes…
Isso me lembrou duas citações de Nietzsche:

"De ninguém exijo tanto a beleza como de ti, ó poderoso; e a sua bondade deveria ser o seu derradeiro triunfo.
Sei que você é capaz de todo o mal possível e é por isso que lhe exijo o bem."

[NIETZSCHE, Friedrich W. Assim Falou Zaratustra. "Dos Sublimes"]

Isso vale para nós dois, Senhorita…
Minha querida… destruir tudo à minha volta foi sempre muito fácil para mim, por isso toda minha cordialidade é questão de escolha. Bom… mas essa é uma outra história.

"Talvez seja má e pérfida, e mulher em todas as coisas, mas nunca é tão sedutora como quando diz mal de si mesma."
[NIETZSCHE, Friedrich W. Assim Falou Zaratustra. "A Canção de Dança"]

Pequenina… mantenha vivo, então, o entendimento daquele breve instante adorável… Tudo que girar em torno dele sempre soará natural e com cheirinho de inocência… Poderíamos até recriar a cena… e com toque do aroma de café…

PS: …simplesmente adoro trocar gentilezas contigo…

Uma Fotografia e Um Olhar…

Acariciei com os dedos tuas palavras…
E os espaços entre elas… — e borrei uma palavra da tua bela grafia.
Demorei-me na parte que dizes que ainda continuas aí…
E que no fundo és a mesma… — e nos espaços entre as palavras havia sentenças inteiras…
É fácil pra ti dizeres isso…
Certeza que tens um espelho emoldurado contigo…
E podes buscar a ti mesma… nos teus olhos se quiseres…
Mas o que mais me interessa aqui…
É o que está entre ti e o teu reflexo…
E segredo-te baixinho…
Já cheguei na quina do espelho, o mais próximo que pude com uma das vistas…
Pra tentar ver algo mais… Juro!
Mas ainda continuas sendo uma Fotografia & Um Olhar…

Um Presente do Tempo e Os Jardins do Esquecimento…

…Tu Sabes…
…Sempre falo contigo!
…Sempre te digo coisas…
…Conto a ti quase tudo…
…Minhas Impressões…
…Minhas Esperanças…
…Minhas Angústias…
…Não recebes as Imagens?… — minha cabeça gira.
…Ai…
…Que o Tempo não é mais o mesmo…
…Quero dizer… “Os Tempos” não são mais os mesmos… Ó Era!
…Tenho tido Tempo de Estudar a Consciência… — já estudei por demais o oposto.
…Tenho corrido por aí…
…E subido nos muros altos da cidade…
…Correndo e saltando por sobre eles…
…Quase matei de susto algumas pessoas na rua, outra noite…
…Surgindo do alto e do nada… — muita sorte deles ver aquilo.
…Quase divertido…
…Quando me canso de tudo paro para ler o Fausto de Goethe…
…Tenho escrito ultimamente…
…meus dejá vù voltaram…
…Outro dia achei coisas que escrevi pra mim…
…Cartas de mim pra mim mesmo… do passado para o futuro…
…E o futuro é agora!
…E meus Desejos me levam para os Jardins do Esquecimento…
…Gostaria muito de levar alguém comigo…
…Gostaria que houvesse alguém…
…Talvez…
…Talvez…


PS: …até eu, crente na Divindade Obscura do Acaso mais do que qualquer um, fiquei intrigado…

Um Tédio Secular e Uma Última Vela…

Observando o branco da folha eu me disse silenciosamente:
"Nem sei por onde começar…"
E disse — mas só sussurro:
"Bom… secretamente o sei."
E é assim que começo…

Eu poderia contar tudo o que vi… a minha presença sorrateira é testemunha daquilo que outrem pensam ser segredo… — rio-me. Mas, como na maioria das vezes, tu atrais os meus processos internos; e não são eles os reflexos das minhas aventuras? — Se a ti pareço esse algo intangível… essa oscilação regrada… uma bela presença ausente… é porque deves considerar que só te habite na idéia… e que eu te seja algo latente… e que te vela… — desconfio severamente estar a rir contigo… exatamente agora…

Pelas passagens através dos tempos — bom… tu bem sabes que sou daqueles que precisam go underground com certa frequência. — a parte de despertar é sempre a mais difícil. De certa forma ainda durmo numa espécie de tédio secular… Através dos tempos busquei o espírito das épocas e tudo isso culminou no hoje e no agora… no espírito desta nossa época. Uma dialética entre a sabedoria e a ignorância… esse espírito é um demônio pior do que eu… e ambos somos uma resultante somatória de todos os espíritos de épocas passadas. Sabes… tenho sonhado com Roma… a Gloriosa… tenho tido sonhos estranhíssimos… caio em estados de consciência que nunca havia experimentado… durante o sono… como se eu acordasse e dormisse repetidamente em intervalos de segundos… e isso me dá uma consciência realística daquilo que deveria saber não existir… sim, algo belo e atormentador…

E agora… com tudo em perspectiva… me incomodo a escrever, já… a última vela se extinguirá… e eu quero me deitar aqui no piso frio e jazer no escuro sozinho… ah… não te preocupas… desperto com os pássaros… e mesmo que assim não fosse… atualmente o que pode me ferir realmente?… desde o meu último surgimento do subterrâneo estou cem vezes mais bondoso… e mil vezes mais terrível…

sábado, 11 de abril de 2009

Sempre o Desejo… Sempre a Distância…

Mas o que é que te posso dar além disso?
Esta distância que nos separa…
Ah…
Falas de um jeito tão doce…

Acreditamos no Nada…
Duvidamos de Tudo…
Hora Acreditando no Todo…
...para considerar os mistérios do Nada…
O que é que te posso oferecer?
Poderíamos conversar dias seguidos…
Se estivesses aqui…
Tenho certeza…
— Cerrei os olhos e toquei-a na face —

Sim, minha querida…
Perfeitamente…
Eu Miro nos Universais…
E se acertar teu Coração…
É porque mereces um Beijo…
Peço novamente:
“Estejas por perto…”

Se continuares a ser sincera e espontânea assim…
Querê-la-ei ainda mais perto…

Rio de Tudo…
Mas a beijaria com força…
Na face esquerda…
Antes do adeus……
— Cerram-se os olhos novamente —
…Adeus…

Erguendo-me do gelo em Busca de Novos Segredos…

Pões-me facilmente um sorriso na face. Digo: que regresse preparada, posto que aprendo truques novos todos os dias. Faz algum tempo que ergui-me da terra e do gelo. Agora posso andar à luz do dia — com um pouco de desconforto é claro, mas nada que me mate. Na verdade perdeste algumas aventuras minhas... nem sabes as coisas que sacrifiquei... É claro, também, que ninguém me vê por aí... ou quase ninguém... Agora quem brinca com fogo sou eu. Realmente não sei o que já captaste da minha mente... mas o que sabes de quem sou? ...e como sou? Minha querida, brinco com fogo invisível... como chamas de metanol... Antigamente me diriam alquimista... mas há muita superstição em torno desta definição atualmente... Prefiro dizer: "Minha querida, sou uma soma impossível!"

Mas ainda há gelo em meus ombros... estou só em uma torre linda... o fogo invisível é perigoso... tenho receio e tenho coragem... talvez... no fim das contas... eu seja mais humano que a maioria dos humanos... demasiado humano... demasiado humano e só... Talvez o grande perigo esteja em estar simplesmente adorando tudo isso... E te confesso baixinho que onde havia uma árvore... só há cinzas agora... Novamente. E sussurro: "Tu, dá-me um segredo... dá-me um segredo pela eternidade... sua bruxinha do bairro francês... desafio-te!"

PS: ...já pensaste numa terra devastada e nós? Ou alguns de nós? Quero dizer... este é um sinônimo para a eternidade: terra devastada.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Apenas no Nascer do Sol Saberás o Quão Forte és…

Sabes…
Hoje vi o Sol Nascer…
…ao menos sua Luz…
…Ah… a Chuva…
…Até que meus Olhos não mais suportaram…
…Caí naquele sono que deves conhecer muito bem…
…Ah… as Eras que me Excederam…
…Encerradas em Memórias Esquecidas…
…Ah… o Sangue dos Antigos…
…Foi então que logo Despertei…
…Nunca mais dormi com aquele Abandono…
…Agora mesmo estou exposto a toda esta Luz…
…Achei que nunca mais me seria Permitido…
…No entanto o Calor agora é algo relativo…
…Penso que Deveria me Ferir…
…Mas apenas meus Olhos Gritam…
…Gritam…
…Ai… a Chuva…

Uma Breve Nota Sobre Coisas Várias…

Ai… a distância…
Ai… as promessas…
Ai… os jardins…
Lindas as flores amarelas…
Ai… os dragões…
…quantos deles…
…que sabes sobre os dragões…?
Ai… o crepúsculo nos teus cabelos…
…nos olhos…
Ai… a distância…

PS: Os “Ais” não são lamúrias, mas possibilidades…
…sabes…
…aquelas realidades que acontecem…
…junto a outras…

Estratagema e O Espírito Desta Nossa Época…

Estratagema???
Hum… Faz-me ter vontade de jogar xadrez…
Ah! O Xadrez da Mente…
Sabes… as conversas que perduram desde o pôr do sol…
Até a hora em que nos inquietamos por um lugar seguro…
Quente e escuro…
Ah! Quantas vezes me sobressalto num temor terrível…
…tenho medo de perder tudo…
…Falo do Sentido das Coisas…
…Temo virar uma Estátua…
…E é por isso que, sim, fico feliz por estarmos separados por nem meia hora de corrida apenas… mas… o Suor Rubro é tão indecoroso!!!
…Sabes… estou num Pub desta cidade de noite tão acolhedora…
…Sinto a presença de Sangue Jovem lá fora…
…mas nada que valha realmente a pena…
…Sinto-me tão solitário hoje…
…Vou acabar fazendo uma loucura…
Ai… Adoro me desafiar… E Eu sempre me Ouso…
…Peço uma taça de vinho…
Bebo-a de um sorvo só…
…apenas com os Olhos e Narinas…

…Digo baixinho: “tu… que achas?!…
…andas tão descuidada pelas ruas…
…há tempos que te sei…
…te sigo desde o Egito…”
Parei para pensar no Espírito desta Nossa Época…
Cheguei a repetir baixinho “Espírito desta Nossa Época…”
E me soou tão estranho…
Ai… me digas tu… Em que Mito vives hoje???