Prólogo

É aquela velha história…
Vampiros fingindo ser humanos fingindo ser vampiros…

Mas a maioria dos missivistas estão mortos…
O Theatre des Vampires há muito desfeito… — Nada poderia ter sido tão maravilhoso como Arte e repugnante como Conceito Ideológico…
Os Antigos dormem, ou apenas perderam o interesse pelo que tem Substância Material… — Recuso-me a falar dos que enlouqueceram…
Os que se fizeram de Heróis, um dia, foram tragados por uma Escuridão de Dúvidas e abarcados pelo que se revela sem abandonar o seu Mistério… — O Desespero Silencioso é um dos acometimentos mais terríveis sobre qualquer tipo de existência.




Então eu não estou aqui para ser herói, ou qualquer coisa assim… Eu sou um Pretexto para a Poesia… foi assim que fui concebido… foi assim que consegui manter alguma Sanidade…
Não que eu seja imune aos Lépidos Desesperos Devoradores de Alma… mas eu sempre fiz de tudo para me manter em movimento, no fluxo das coisas, desde antes de ser entregue ao Irremediável Poder das Trevas… — um dia eu conto essa história…
É por isso que eu continuo… e vou continuar até que o Sol devore este nosso Planetinha, vocês vão ver. E se quiserem ver mesmo… bom… vão ter de implorar por uma mordida…

sábado, 17 de outubro de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte VI) — Coração Negro…

Obliteração… era o que eu levava em minha Sinistra.

Eu pensava nos que enlouqueceram. Mas eu não deixaria isso acontecer a mim. Eu só queria que entendesses. Mas eu mesmo me sentia no comando de uma nave à deriva. Mesmo que meu norte celestial fosse Diana… A Beleza da Natureza sempre suscita a Natureza da Beleza… Isso não é paixão suficiente para ti? Eu só queria que visses o que vejo. Mas todas as sensações e os sentidos não estão no sangue?

Os séculos me roubaram todas as certezas… e o que fora certeza um dia foi extraído do meu próprio tempo. Eu troquei meu tempo de vida pela eternidade. Tudo isso é uma grande ironia… a minha realidade… o que eu me tornei… todo o meu poder… todo o meu sentimento de impotência… vontade de viver… de expirar… culpa… redenção…

E eu escolho me apaixonar por uma Deusa. Algo que só habita nos meus ideais. Uma paixão que faz meu espírito ferver… e gela meu coração…

Mas em minha Destra eu levava justamente meu coração. Eu me agarrava a ele com a certeza de que é nele que reside toda a minha verdadeira sabedoria.

Então eu cessei minha incrível velocidade estacando no nada. Abri meus braços largamente e juntei num rápido movimento minhas mãos frente ao meu peito para fundir o conteúdo que trazia nelas. A obliteração seria absorvida cabalmente pelo meu Coração Negro. Pois essa é a função específica de um Coração Negro: absorver tudo, permanecer intacto e ser indelével.

Assim, como se despertasse de um sonho, emergi para a consciência do que havia ao meu redor erguendo a cabeça e os olhos. Estava lá Diana. Não mais um adorno no céu, mas um Admirável Mundo Novo…



“O gênio do coração, tal como possui aquele grande incógnito, o deus tentador e receptor das consciências, cuja voz sabe descer até as últimas trevas da alma, que não diz uma única palavra, que não lança um só olhar no qual não haja uma dupla intenção sedutora, cuja maestria especial é a de saber revelar-se, não o que ele é, mas sim aquilo que para os que os seguem se torna um constrangimento a mais para vinculá-los sempre em redor de si, a fim de segui-lo mais íntima e radicalmente…

“O gênio do coração, que faz amainar todas as vozes altissonantes e vaidosas, que ensina ouvir em silêncio, que alisa as almas enrugadas, ensinando-lhes um novo desejo: o desejo de ficar quieto e jazer, como um espelho d’água onde se reflita o céu profundo e calmo…

“O gênio do coração que ensina à mão torpe e impulsiva como deve conter-se e ser mais delicada; que sabe descobrir o tesouro oculto e esquecido, a gota de bondade e de doce espiritualismo escondida debaixo da camada sólida do gelo; que é uma varinha mágica que atrai as pepitas de ouro soterradas há muito tempo no lodo e na areia…

“O gênio do coração de cujo contato todos saem mais ricos, não abençoado e surpreendido, não feliz e oprimido por ter obtido um bem alheio, mas sim mais rico de si mesmo, renovado, reflorido, beijado e compenetrado quase pelo sopro de um zéfiro mais tenro, mais frágil, ainda cheio de novas esperanças sem nome, cheio de intenções, repleto de novas vontades e de novas energias, transbordante de desdéns novos e de reações originais…”
[NIETZSCHE, Friedrich W. Para Além do Bem e do Mal. "O Que É Aristocrático?"]

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