Prólogo

É aquela velha história…
Vampiros fingindo ser humanos fingindo ser vampiros…

Mas a maioria dos missivistas estão mortos…
O Theatre des Vampires há muito desfeito… — Nada poderia ter sido tão maravilhoso como Arte e repugnante como Conceito Ideológico…
Os Antigos dormem, ou apenas perderam o interesse pelo que tem Substância Material… — Recuso-me a falar dos que enlouqueceram…
Os que se fizeram de Heróis, um dia, foram tragados por uma Escuridão de Dúvidas e abarcados pelo que se revela sem abandonar o seu Mistério… — O Desespero Silencioso é um dos acometimentos mais terríveis sobre qualquer tipo de existência.




Então eu não estou aqui para ser herói, ou qualquer coisa assim… Eu sou um Pretexto para a Poesia… foi assim que fui concebido… foi assim que consegui manter alguma Sanidade…
Não que eu seja imune aos Lépidos Desesperos Devoradores de Alma… mas eu sempre fiz de tudo para me manter em movimento, no fluxo das coisas, desde antes de ser entregue ao Irremediável Poder das Trevas… — um dia eu conto essa história…
É por isso que eu continuo… e vou continuar até que o Sol devore este nosso Planetinha, vocês vão ver. E se quiserem ver mesmo… bom… vão ter de implorar por uma mordida…

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Admirável Mundo Novo… (Parte IV) — A Sedução do Nada…

Resolvera eu iniciar a ascensão na mesma região do último encontro. Solenemente eu me despedia de Gaia, e Diana à minha frente refletia-se no espelho dos mares. Mesmo a Beleza Suprema nunca é suficiente. Muito lentamente eu ascendia, quase apenas pairava, ponderando no que eu faria, no melhor caminho, nas coisas que poderiam me ocorrer e nas coisas que eu jamais adivinharia. — E não é aí que está a diversão?! — A Lua já avançara bastante até eu ter iniciado a subida de verdade.



Alcancei um corredor de nuvens que parecia ser um mundo paralelo ao que estamos habituados. Um mundo harmonioso regido por ventos caóticos, repentinos e inconstantes, e colorido sempre em máximos contrastes: A ira de Apolo e a serenidade de Diana a se fazer de tímida, oculta pelas nuvens.



Continuei subindo até onde reina a Deusa do Silêncio. O Silêncio sobre todas as coisas; uma de minhas divindades favoritas. Diana agora banhava-se nas cores da atmosfera, nos ares da beleza… o manto de Gaia. — Lembro muito bem o que aconteceu com Acteon ao flagrar a Deusa a banhar-se: fora transformado em cervo, caçado e morto por seus próprios cães de caça. Irônico… — Então avancei pelo lado oposto. O respirar já pura ilusão, uma mania… apenas o arfar dos pulmões.



Avancei até curvar o horizonte, até que quilômetros de nuvens coubessem em minha mão. Nada mais entrava em meus pulmões por mais força que fizesse e agonizei por uns instantes antes de desistir do processo. Então exalei qualquer resíduo gasoso dos pulmões sentindo uma pontada terrível desde a base das costas até o peito e uma tremenda pressão interna. Novamente o desespero por inspirar e nada preenchia meus pulmões. Respirar água havia sido bem mais fácil e menos agonizante; achei que seria o contrário agora. Estava tremendamente enganado! Parei com gelo na boca e meu lacrimejar cortando meus olhos devido às baixíssimas temperaturas. Tentei gritar, mas já não havia ar para minhas cordas vocais. “Ao menos a vista é bela”, pensei. Ao menos havia senso de humor ainda. Tive de parar ali. Não suportava mais.



Concentrei-me no Silêncio, em minha mente. Silenciar o meu corpo. Fazer do corpo um veículo para a mente e escravizar as suas falsas necessidades. Cerrei os olhos e despenquei no Nada dentro e fora de mim, onde não havia tempo, obrigações, necessidades, e o conceito do “eu” também era o conceito do Nada abraçando Tudo. Talvez tenham se passado horas, e então despertei repentinamente com o espasmo do sonhador que despenca de algum lugar, com receio de abraçar de vez a obliteração.

Eu estava pronto.

Avancei mais algumas dezenas de quilômetros rapidamente para dar uma última olhada para trás…



“Em meio a outros menos notáveis,
Surgiu uma forma quebradiça,
Um fantasma entre os homens: solitário,
Como a nuvem derradeira no fim da tempestade,
Cujo trovão é o dobre fúnebre; ele, tal como imagino,
Contemplou a beleza nua da Natureza
Como Acteon, e agora fugia sem rumo,
Com passos débeis, através dos desertos;
E seu próprio pensamento é o cão que devora
Seu dono e sua presa, pelo mundo afora.”
[SHELLEY, Percy B. Adonaïs, § 31.]

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