Resolvera eu iniciar a ascensão na mesma região do último encontro. Solenemente eu me despedia de Gaia, e Diana à minha frente refletia-se no espelho dos mares. Mesmo a Beleza Suprema nunca é suficiente. Muito lentamente eu ascendia, quase apenas pairava, ponderando no que eu faria, no melhor caminho, nas coisas que poderiam me ocorrer e nas coisas que eu jamais adivinharia. — E não é aí que está a diversão?! — A Lua já avançara bastante até eu ter iniciado a subida de verdade.
Alcancei um corredor de nuvens que parecia ser um mundo paralelo ao que estamos habituados. Um mundo harmonioso regido por ventos caóticos, repentinos e inconstantes, e colorido sempre em máximos contrastes: A ira de Apolo e a serenidade de Diana a se fazer de tímida, oculta pelas nuvens.
Continuei subindo até onde reina a Deusa do Silêncio. O Silêncio sobre todas as coisas; uma de minhas divindades favoritas. Diana agora banhava-se nas cores da atmosfera, nos ares da beleza… o manto de Gaia. — Lembro muito bem o que aconteceu com Acteon ao flagrar a Deusa a banhar-se: fora transformado em cervo, caçado e morto por seus próprios cães de caça. Irônico… — Então avancei pelo lado oposto. O respirar já pura ilusão, uma mania… apenas o arfar dos pulmões.
Avancei até curvar o horizonte, até que quilômetros de nuvens coubessem em minha mão. Nada mais entrava em meus pulmões por mais força que fizesse e agonizei por uns instantes antes de desistir do processo. Então exalei qualquer resíduo gasoso dos pulmões sentindo uma pontada terrível desde a base das costas até o peito e uma tremenda pressão interna. Novamente o desespero por inspirar e nada preenchia meus pulmões. Respirar água havia sido bem mais fácil e menos agonizante; achei que seria o contrário agora. Estava tremendamente enganado! Parei com gelo na boca e meu lacrimejar cortando meus olhos devido às baixíssimas temperaturas. Tentei gritar, mas já não havia ar para minhas cordas vocais. “Ao menos a vista é bela”, pensei. Ao menos havia senso de humor ainda. Tive de parar ali. Não suportava mais.
Concentrei-me no Silêncio, em minha mente. Silenciar o meu corpo. Fazer do corpo um veículo para a mente e escravizar as suas falsas necessidades. Cerrei os olhos e despenquei no Nada dentro e fora de mim, onde não havia tempo, obrigações, necessidades, e o conceito do “eu” também era o conceito do Nada abraçando Tudo. Talvez tenham se passado horas, e então despertei repentinamente com o espasmo do sonhador que despenca de algum lugar, com receio de abraçar de vez a obliteração.
Eu estava pronto.
Avancei mais algumas dezenas de quilômetros rapidamente para dar uma última olhada para trás…
“Em meio a outros menos notáveis,
Surgiu uma forma quebradiça,
Um fantasma entre os homens: solitário,
Como a nuvem derradeira no fim da tempestade,
Cujo trovão é o dobre fúnebre; ele, tal como imagino,
Contemplou a beleza nua da Natureza
Como Acteon, e agora fugia sem rumo,
Com passos débeis, através dos desertos;
E seu próprio pensamento é o cão que devora
Seu dono e sua presa, pelo mundo afora.”
Alcancei um corredor de nuvens que parecia ser um mundo paralelo ao que estamos habituados. Um mundo harmonioso regido por ventos caóticos, repentinos e inconstantes, e colorido sempre em máximos contrastes: A ira de Apolo e a serenidade de Diana a se fazer de tímida, oculta pelas nuvens.
Continuei subindo até onde reina a Deusa do Silêncio. O Silêncio sobre todas as coisas; uma de minhas divindades favoritas. Diana agora banhava-se nas cores da atmosfera, nos ares da beleza… o manto de Gaia. — Lembro muito bem o que aconteceu com Acteon ao flagrar a Deusa a banhar-se: fora transformado em cervo, caçado e morto por seus próprios cães de caça. Irônico… — Então avancei pelo lado oposto. O respirar já pura ilusão, uma mania… apenas o arfar dos pulmões.
Avancei até curvar o horizonte, até que quilômetros de nuvens coubessem em minha mão. Nada mais entrava em meus pulmões por mais força que fizesse e agonizei por uns instantes antes de desistir do processo. Então exalei qualquer resíduo gasoso dos pulmões sentindo uma pontada terrível desde a base das costas até o peito e uma tremenda pressão interna. Novamente o desespero por inspirar e nada preenchia meus pulmões. Respirar água havia sido bem mais fácil e menos agonizante; achei que seria o contrário agora. Estava tremendamente enganado! Parei com gelo na boca e meu lacrimejar cortando meus olhos devido às baixíssimas temperaturas. Tentei gritar, mas já não havia ar para minhas cordas vocais. “Ao menos a vista é bela”, pensei. Ao menos havia senso de humor ainda. Tive de parar ali. Não suportava mais.
Concentrei-me no Silêncio, em minha mente. Silenciar o meu corpo. Fazer do corpo um veículo para a mente e escravizar as suas falsas necessidades. Cerrei os olhos e despenquei no Nada dentro e fora de mim, onde não havia tempo, obrigações, necessidades, e o conceito do “eu” também era o conceito do Nada abraçando Tudo. Talvez tenham se passado horas, e então despertei repentinamente com o espasmo do sonhador que despenca de algum lugar, com receio de abraçar de vez a obliteração.
Eu estava pronto.
Avancei mais algumas dezenas de quilômetros rapidamente para dar uma última olhada para trás…
“Em meio a outros menos notáveis,
Surgiu uma forma quebradiça,
Um fantasma entre os homens: solitário,
Como a nuvem derradeira no fim da tempestade,
Cujo trovão é o dobre fúnebre; ele, tal como imagino,
Contemplou a beleza nua da Natureza
Como Acteon, e agora fugia sem rumo,
Com passos débeis, através dos desertos;
E seu próprio pensamento é o cão que devora
Seu dono e sua presa, pelo mundo afora.”
[SHELLEY, Percy B. Adonaïs, § 31.]
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