Prólogo

É aquela velha história…
Vampiros fingindo ser humanos fingindo ser vampiros…

Mas a maioria dos missivistas estão mortos…
O Theatre des Vampires há muito desfeito… — Nada poderia ter sido tão maravilhoso como Arte e repugnante como Conceito Ideológico…
Os Antigos dormem, ou apenas perderam o interesse pelo que tem Substância Material… — Recuso-me a falar dos que enlouqueceram…
Os que se fizeram de Heróis, um dia, foram tragados por uma Escuridão de Dúvidas e abarcados pelo que se revela sem abandonar o seu Mistério… — O Desespero Silencioso é um dos acometimentos mais terríveis sobre qualquer tipo de existência.




Então eu não estou aqui para ser herói, ou qualquer coisa assim… Eu sou um Pretexto para a Poesia… foi assim que fui concebido… foi assim que consegui manter alguma Sanidade…
Não que eu seja imune aos Lépidos Desesperos Devoradores de Alma… mas eu sempre fiz de tudo para me manter em movimento, no fluxo das coisas, desde antes de ser entregue ao Irremediável Poder das Trevas… — um dia eu conto essa história…
É por isso que eu continuo… e vou continuar até que o Sol devore este nosso Planetinha, vocês vão ver. E se quiserem ver mesmo… bom… vão ter de implorar por uma mordida…

domingo, 19 de setembro de 2010

Admirável Mundo Novo… (Parte XIV) — A História de Órion… (Parte VI) — Diálogo do Absurdo…

Ligeiramente hesitante em pisar a face de Diana, uma vontade quase autônoma me mantinha sem esforço algum a milímetros do solo; apenas uma languidez me puxava para baixo, — e talvez eu apenas esteja rebatizando a baixa gravidade… — eu poderia muito bem ser um bailarino impossível, com a ponta dos meus pés quase tocando o solo. Ao lado de Órion, então, eu nivelo meus ombros aos dele. Ele torna apenas a face para mim:

— Um encontro providencial das Trevas? Um encontro das Trevas… providencial? — …e às vezes nós temos expressões que os humanos desconhecem… — Às vezes me ocorre ser um erro confiar tais segredos a ti. Mas segredos são coisas dúbias na sua própria natureza, e querem tanto ser escondidos quanto descobertos… Saiba… acho incrível tu adorares a Deusa do Silêncio e ter uma mente e, principalmente, um coração que grita! Tu carregas a Natureza do Absurdo, Endímion…

— Ora, há quanto tempo não tenho tantas palavras bonitas comigo… Agora, se tem algo que nos conecta, certamente, é o sangue! Mas só nós mesmos sabemos o que a solidão é capaz de fazer conosco. Quero dizer… há tantas maneiras de ser forte… assim como de ser fraco… Talvez a nossa capacidade de sobreviver seja a nossa força mais absurda, enquanto que quantos de nós resguardamos uma humanidade quase incompatível com as nossas necessidades imortais; definitivamente nossa fraqueza! Somos todos Absurdos, Órion! Aposto que tu sequer sabes quanto tempo tem passado desde que fizeste destes abismos de escuridão eterna a tua morada… E se eu dissesse a ti que mais cedo ou mais tarde, mesmo que nossos milênios e nossos absurdos não possam mais ser contados, o Sol virá devorar a Terra e a Lua e o que estiver no caminho… Uma Estrela Vermelha Gigante! — eu gargalho no vácuo. — Onde está a Eternidade? O que é a Eternidade, Órion? E então tu utilizas a palavra providencial e a põe em interrogativa a mim!? Ah! Eu amo e odeio esse nosso mundo feérico… e às vezes eu não sei mais o que fazer!!! Que tenho eu além do agora? …de verdade! Diga-me!

— Toda a tua efusão é um deleite absurdo… Não seria uma fraqueza não teres medo disso? Demasiado humano; e tu não temes também? Tu és um prodígio, mas por que foges de tudo? Isso não te faz apenas um moleque? Toda essa tua altivez principesca de um mundo feérico do mal não te salva? Por que acho que tu criaste uma moral mais do que absurda para ti mesmo!?

Absurdo!, pois isso não existe! O que existe é a vontade! Absurdo!, pois essa vontade me aproxima e me afasta de tudo! Preciso tanto de companhia, como de solidão! Providencial… … … na minha mais completa solidão… esbarrar com um gigante milenar… acreditando que estaremos aqui para sempre… acreditando por acreditar… acreditando, por vezes, que nosso agora está 3.500 anos daqui.

Órion afinou os olhos, escondendo-os sob as espessas sobrancelhas, e continuou:

— …então meu pai disse: “Hyron! Eu quero que venhas comigo…”



“Parece um absurdo, e no entanto é a exata verdade, que, se toda a realidade for vazia, não haverá mais nada de real nem de substancial no mundo além das ilusões.”
[LEOPARDI, Giacomo. Zibaldone.]

“O homem é absurdo por aquilo que busca, grande por aquilo que encontra.”
[VALÉRY, Paul A.]

“O tempo em si é um absurdo: só existe tempo para um ser que sente. E o mesmo acontece em relação ao espaço.”
[NIETZSCHE, Friedrich W. O Livro do Filósofo.]

“Um sentimental é um homem que a tudo dá um valor absurdo e que não faz a mínima ideia do preço do que quer que seja.”
[WILDE, Oscar.]

“O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.”
[CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo.]

“A solidão mostra o original, a beleza ousada e surpreendente, a poesia. Mas a solidão também mostra o avesso, o desproporcionado, o absurdo e o ilícito.”
[MANN, Thomas. Morte em Veneza.]

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