Prólogo

É aquela velha história…
Vampiros fingindo ser humanos fingindo ser vampiros…

Mas a maioria dos missivistas estão mortos…
O Theatre des Vampires há muito desfeito… — Nada poderia ter sido tão maravilhoso como Arte e repugnante como Conceito Ideológico…
Os Antigos dormem, ou apenas perderam o interesse pelo que tem Substância Material… — Recuso-me a falar dos que enlouqueceram…
Os que se fizeram de Heróis, um dia, foram tragados por uma Escuridão de Dúvidas e abarcados pelo que se revela sem abandonar o seu Mistério… — O Desespero Silencioso é um dos acometimentos mais terríveis sobre qualquer tipo de existência.




Então eu não estou aqui para ser herói, ou qualquer coisa assim… Eu sou um Pretexto para a Poesia… foi assim que fui concebido… foi assim que consegui manter alguma Sanidade…
Não que eu seja imune aos Lépidos Desesperos Devoradores de Alma… mas eu sempre fiz de tudo para me manter em movimento, no fluxo das coisas, desde antes de ser entregue ao Irremediável Poder das Trevas… — um dia eu conto essa história…
É por isso que eu continuo… e vou continuar até que o Sol devore este nosso Planetinha, vocês vão ver. E se quiserem ver mesmo… bom… vão ter de implorar por uma mordida…

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Admirável Mundo Novo… (Parte XII) — A História de Órion… (Parte IV) — O Oráculo Dançante e A Dança dos Chacais…

O Oráculo dançante: “Há uma Dança que rege os ciclos naturais da Vida e do Tempo… Prestais atenção à sucessão de eventos que vós julgais ser de maior significância em dado momento… Quando A Dança, ela própria, oculta do Tempo a percepção longínqua da real efetividade de qualquer evento… Enquanto reinam O Senhor do Tempo e A Deusa Herdeira da Mãe de toda a Vida, na Era de Ouro, o povo jamais precisou de leis e qualquer imoralidade jamais se fez presente… Mas o Tempo que devora até as pedras pôde ser enganado! A Vida é mais astuta que o Tempo e engendra Deuses e Monstros… A Vida pode muito bem pactuar com a Morte! E um dia A Deusa será suplantada, e o Tempo no Coração dos Homens só quererá devorar a Vida… Um dia Onze serão Um, e esse Um carregará… … …” — a voz é brevemente substituída por um gotejar metálico, e então regressa em caráter de urgência — “…o Puro Espírito do Bebedor poderá andar sobre a Terra novamente se O Caçador quiser um sangue mais nefasto que o seu próprio… Porém, neste exato momento, há uma dança, uma das mais belas e perigosas já realizadas por qualquer dançarina… A Dança dos Chacais!”



Então houve a dissociação e eu não pude fazer nada, o tempo não era o meu… O jovem Órion tentava ser o mais rápido possível naquele terreno irregular e cheio de pedras soltas, enquanto Nim, sob uma chuva de Dittanys, tentava se esquivar e se proteger de um bando de chacais com a cesta das flores que carregava. O céu tornara-se rubro por detrás das Montanhas Brancas, aplicando um filtro dramático à cena que eu apenas pude observar. O cesto de flores foi arrancado das mãos de Nim e estraçalhado por três chacais, enquanto outros dois investiram pelo seu flanco esquerdo com mordidas rasteiras mirando os pés da dançarina que esquivava com uma graça que parecia não condizer com o perigo da situação. Ela olhou rapidamente ao redor buscando os cavalos que, como foram deixados soltos pastando, estavam um pouco longe demais para tentar uma corrida até eles. Ela também procurou por pedras, mas naquela parte gramada não havia nenhuma que pudesse ser usada. “Hyron”, ela gritou quando os chacais deixaram a cesta de flores de lado para terminar de cercá-la. “Hyron, Hyron”, ela gritou e ele despontava descendo a colina próxima, levantando uma poeira avermelhada. Ela rolou para trás sobre suas costas, como uma cambalhota, já estando em pé novamente, assim abrindo uma distância que permitiu que ela virasse as costas para os chacais e corresse. Órion se aproximava, e como estava desarmado por ter saído rapidamente de casa, pegou duas pedras no caminho que cabiam justamente em suas mãos. Nim conseguiu dar três passadas antes que fosse agarrada pela barra da túnica. A túnica cedeu e ela conseguiu dar outras três passadas antes de ser agarrada novamente. Pude ver o detalhe dela apertando fortemente os olhos marejados numa mistura de raiva e desespero enquanto lhe escapava um grito sem forma. Um dos animais saltou acima de sua cintura intencionando pegar um de seus braços, mas ela movimentou-se agilmente, deixando apenas o tecido da parte de baixo da manga curta e a lateral da túnica para a mordida. Nesse exato momento seu irmão pode mirar e acertar com a pedra a cabeça deste mesmo chacal enquanto outro investia novamente contra Nim, agarrando o que sobrara da saia de sua túnica. Como se realmente em uma dança, Nim não se deixava parar em um mesmo lugar nem por um segundo, o que dificultava as investidas dos chacais que tentavam segurá-la como podiam. Órion gastou a ultima pedra na cabeça do animal que se interpunha a sua irmã, e quando o outro chacal arrancou o resto do trapo que ainda vestia a garota, Órion pode avançar pela lateral do animal e chutá-lo na parte mole do ventre, fazendo-o girar no ar três vezes antes de voltar ao chão. Ainda restavam dois chacais que rosnavam ameaçadoramente enquanto o jovem chutava a terra em suas caras e rosnava de volta para eles, mas com três do bando nocauteados, dificilmente tentariam alguma outra investida.

Órion segurava Nim pelo braço, colocando-se um pouco à frente de maneira defensiva, caminhando lentamente de costas na direção dos cavalos que, alertas e bastante agitados, observavam tudo de uma distância segura.

— Estás bem, Nim?! — ele sussurrou sem tirar os olhos dos chacais.

— Estou bem, mas chegaste no último instante! Por que demoraste tanto naquela caverna?! — ainda ofegante e com os olhos vidrados pelo êxtase da adrenalina.

— Eu realmente não tenho essa noção do tempo… Para mim é como se eu tivesse entrado e imediatamente saído daquela caverna! Entretanto eu tenho a lembrança de acontecimentos enquanto eu estava lá dentro… mas são acontecimentos com os quais eu não me identifico, quero dizer… sinto como se não fosse eu naquela caverna… e ainda sim está gravada em minha mente, como em placas de pedra, cada palavra oracular dessa lembrança absurda!

— Veja, Hyron! Estão se levantando…

Eles correram até os cavalos, aqueles resistentes cavalos do oriente que sei muito bem não terem sido vistos mesmo no Egito, naquela época dos primórdios da civilização. E confesso que caí de amores por aquela garota que não dividia sequer o milênio comigo, quando ela, de um salto só, encaixou o animal, negro como a noite, entre suas pernas desnudas. O jovem começou a desatar sua única vestimenta: o seu saiote, para cobri-la ao menos um pouco, mas ela recusou a oferta:

— Deixa, meu querido, no momento mereço sentir a vida no meu corpo sem qualquer coisa que mitigue ou roube meus sentidos…

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